quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Sobre plenitude, sonhos e inspiração


Eu nunca tinha vivido um amor que enche. Que dá pena de não sorrir, de não pensar em pra sempre.

Um amor assim confunde a lógica dos sonhos, bagunça a inquietação. E diminui o ritmo da inspiração.

Degraus foram feitos para inquietos, para o incomodo, para uma ou outra lágrima e segundos de êxtase. Mas só lá no finalzinho.

Quem está cheio de amor se basta. Quer sentar no degrau que está, adormecer abraçados. Parece que a procura terminou. A lógica muda. E, assumo, ela anda bastante confusa. Lógica irracional.

A felicidade não é um estado natural. É preciso moldar-se a ela, acertas rebarbas, acomodar a cabeça.
É como afofar travesseiro novo.

É só questão de ser. 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Não. Saber. Fazer.


Ponto no chão. Não sei mais escrever, não sinto como antes. Não sou a mesma, não sinto como antes.
Não sou brilhante, ideias e atitudes, respostas, porquês e senãos sem fundamento. Sou uma decepção na mesma proporção em que me decepcionam.
Tenho dias-farsas, escondo do outro, escondo de mim. A cada mentira, quebro um pedacinho da alma e não sei só viver.
Tenho mais motivos pra sorrir, mas mais pra chorar. Copiosamente. Numa mistura de desespero, saudades e a sensação sem-nome de quando você se dá conta da sua própria incompetência. Insignificância.
Sensação momentânea, mas que só vai depois de uma noite salgando o lençol.
Salguei o lençol. 

domingo, 1 de julho de 2012

Sobre esquecer de voar



Andei me perdendo, esquecendo que eu quero pouco da vida.
Quero mais manhãs, mais olhos fechados sob o sol. Mais céus azuis, mais sentir os braços dele envolta do meu corpo.
Quero mais banhos demorados olhando o mar, quero mais mar na frente dos meus olhos.
Quero sentir falta daquilo que foi intenso, quero mais coragem, mais deixar o corpo relaxar, pesado. Quero brisa, quero mãe e almoço de domingo.
Quero dormir com a cabeça no colo dele de novo. Quero mais livros, mais discos, mais campo. Uma rede, mais letras, mais ideias despretensiosas.
Quero sonhar em qualquer lugar.
E que os outros tropecem em mim.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Prelúdio


De poeminha sem paixão, a gente já cansou
Deixar ser, respirar lá do fundo e olhar além, mais além
Pra encontrar o poeminha da vez, poeminha com paixão
Balançar os braços, apressar os passos, soltar o riso
Pra inventar mais uma razão, inspiração
Deixar a vida correr, o outro buscar, o telefone tocar, o ponto passar
Distraída com o novo olhar, inchado de intenção
De criar poeminhas com rima, ritmo, uma palavra ou outra fora do lugar
Daquele tipo que se fazem quando se está assim
De violão na mão
De coração na mão
E finalmente pular pro próximo capítulo,
Travessão

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sem-nome


Nada cala mais um escritor do que não saber nomear o que está sentindo. Sobre amor é fácil. Sobre desamor, ainda mais fácil.

Mas e quando não se sabe nada sobre o que está dentro da gente? E quando tudo o que você experimenta são sensações de algo sem nome? Algo que ninguém entenderia? 

É uma falta de sentir falta, uma carência independente, uma tristeza que dança pop embaixo do chuveiro. É uma saudade que já sente falta do que ainda se vive. Uma vontade de voltar pra onde sabe-se que não há mais encaixe. 

Não saber nomear a vida é quase que augustiante. Não saber a peça que falta ou, quem sabe, a que sobra é paralisia. É esquecer a criatividade em casa e não voltar para alimentá-la a tempo.
É ver-se secar de dentro pra fora.

Esperar por um sentimento que tenha nome pode doer. 
Ninguém nunca havia me dito que esperar dói. 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

De vai e de vem

A saudade é avassaladora mesmo. E ainda tenho dúvidas se ela é doce como ouvi dizer. Vou continuar na minha loucura desprovida daquele senso de loucura. Sem forma de loucura. Tipo uma loucura interna, feita de um material que recolhi em mim.
Uma loucura normal. Mas não normal como o tédio dos dias sem graça que as pessoas criam para elas mesmas. Uma loucura normal esculpida na minha normalidade.
O importante mesmo é não parar. É proibido parar, porque se você para, você simplesmente não é. A velhice chega mais rápido, sabe? 

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

uma nova viagem

com uma vida inteira nova em londres, provavelmente ficarei em débito por aqui. minhas energias estarão focadas em escrever minhas impressões... e tem uma fanpage pra isso. é só clicar: http://www.facebook.com/pages/Nat-em-Londres/132156456863382

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Pianíssimo

Eu toco o dia no lugar errado. Caminho com a sensação de que estou tocando você no lugar errado, de uma maneira torta. Eu olho, olho e continuo tocando torto.

Percorri (eu percorro todos os dias) as notas e alguma coisa está errada. Sabe como se aparentemente as notas estivessem lá, enfileiradas, mas uma delas fosse menor? Pode ser maior também. Consegue imaginar?

Não sinto tristeza ou euforia, é só uma sensação de que estou tocando alguma nota errada. Estou tocando a dia errado, a cor errada. E eu não sei te dizer quando começou.

A nota errada está em algum lugar, mas meu ouvido nunca foi grande coisa.
Meu toque anda torto e não sei a quem pedir ouvidos bons.

Preciso de um juiz pra dizer se o que anda fora do compasso é a tecla ou dedo. Preciso de um doutor pra dizer se tem cura.

Preciso de dedos e de uma música nova também.

sábado, 11 de junho de 2011

Sobre Clara

Um dia resolvi criar outra vida. Misturar com a minha, criar outra, cozinhar, cortar minhas mãos e as costurar na vida da Clara.

A Clara anda ganhando espaço. Aí eu resolvi não importunar mais os colegas com as escolhas dela. Clara precisa dos seus próprios colegas.

E agora ela vai estar ali, na outra aba, lá em cima, tá?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A escolha de Clara

Parte 1

Clara sentiu uma vontade louca de dançar. O vermelho do vestido marcava cada curva, cada lombada de um corpo usado. Entre tantos pensamentos, usado era o único adjetivo que ela encontrava. Usado por homens, mulheres, pelas horas que passava embaixo d’água para esquecer outro dia que separava seu ideal do que ela era forçada hoje de novo: mergulhar seus pés, joelhos e coxas em uma realidade que insistia em acontecer. Os dias insistiam em nascer, o sol insistia em parar, o dito cujo lá em cima, esquentar: - Não, eu não quero que o dia nasça amanhã – Clara repetia. Repetia 3, 4 vezes só para ter certeza.

E aquela existência irritante continuava existindo. O sol continuava, desafiante, seu curso. As pessoas continuavam acordando e os telefones, todos os telefones do mundo, continuavam soando os ridículos toques. E as pessoas, que continuavam acordando, continuavam programando seus ridículos toques para revelar a quem estava a sua volta sua predileção musical. – Tolos, um bando de tolos.

Clara achava sua mente enegrecida demais para o seu nome. Tentou mudar uma vez, implementar apelidos, mas só os populares (ou os perdedores) que são dignos de apelidos. E ela não era nada. Ela não era nada mais do que um outro alguém.

A vontade de dançar era real e, por mais que o gesto fosse inchar a sensação de abandono de alma, ela se resolveu com uma solução. Um jazz maltrapilho era perfeito.

Uma abajur pequeno iluminava a sala do apartamento. Décimo sétimo andar. Clara gostava do frio no estômago de se ver pendurada com nada além de um vazio sob seus olhos. Algo como voar, mas sem asas, paraquedas. Clara costumava dizer que a altura não a assustava. Não. A altura era o prenúncio da queda.

A altura era o prenúncio da morte e ela gostava de conviver com a morte, lado a lado. Uma parede de concreto (uns 50 centímetros?) separava a vida da não-existência. Ela costumava afogar o superego quando estava sozinha e brindava à morte iminente. Mas a morte nunca chegou. Clara era covarde demais. Assim como eu.

(O projeto continua ali em cima)

sábado, 21 de maio de 2011

Da desistência

Colocar os olhos na janela e contar luz por luz, um mar de luz, rios desconexos de luzes sempre é como um imã. Coloco os olhos nas luzes, no vazio e prevejo a queda. Ainda que ela nunca aconteça. A sensação de morte imediata nasceu com a minha espera. Sou mais um bobo sentado na cadeira da espera pelo que tenho saudade de jamais ter tocado. Sou mais uma espera.

Paro na fila antes de pegar o transporte coletivo e sou cercada de rostos que encontraram. Eles gritam com os olhos, com as mãos: “Que você continue na espera. Assim é que é”.

Eu sempre pedi sonhos em segredo porque eu sabia que a realidade entendia palavras ditas baixinhas. De uma sala a outra, eu fui transferida, sempre na promessa cega de que sonhos em segredo era exatamente a linguagem de deus.

Deus ouviu calado. Mas os homens não entendem a linguagem de deus e julgaram que eu não tinha sonhos.
Vesti-me com as roupas da luta e empunhei a arma que me coube. Fiz questão de dizer ao mundo que era serva da realidade, que de sonho eu era imune, graças a deus.

E vivi os dias assim: empunhei armas de todos os tamanhos e cores, fiz questão de percorrer meus iguais, meus tetos, convencendo-os de que eu era imune. E quem viesse comigo, viveria uma existência imune.

E sou uma fraude. Sempre fui uma fraude mal feita, pele e roupas e sonhos em segredo.

Clarice contou pra mim quando passei semanas G.H. e sua paixão: “Toda a minha luta fraudulenta vinha de eu não querer assumir a promessa que se cumpre: eu não queria a realidade”. E assim eu me assumo.
De tanto treinar, os sonhos secretos surgem sozinhos. Engasgo com alguns deles. Já pensei que morreria afogada de (em) segredos.

O antídoto está na realização do sonho, mas meu palpite é que deus faz gente para ocupar cadeiras. E não me julgue pela conformidade. A desistência pode ser um prêmio. 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Me procuro padrões

Não me julgue, mas hoje vou gritar a má sorte. Gente que não encontra o seu lugar é bem assim: entre toda piada do mundo e um mar de angústia em que sorrisos nem podem virar pó, porque nem podem existir.
Eu cansei de rever dias, os fatos, os beijos, a falta, o término. Cansei de encontrar padrões. Porque para estar tudo como está, só pode existir um maldito padrão que come minha raiz enquanto me dá vitaminas.
Uma planta doente. Se a raiz é podre, não existe um santo que se enterre nela. Não tem o que tirar e água não basta. Não tem um santo que, se soubesse de como a raiz está podre, correria pra outro vaso, outro corpo, outro mundo.
Eu não sei amar. E não tem um maldito dia que eu não revire os fatos, os beijos, a falta, o término em busca de uma maldita resposta. Eu não sei amar e, como coração pensante, quero saber o porquê.
Estou assustada com a ideia simples, com a ideia totalmente palpável de que as coisas são como são. Aquela sua boca enorme repetiu isso pra mim uma tarde em que deitávamos no chão, quietos, porque não tínhamos mais o que dizer.
Tenho uma maldita mania de tentar encontrar padrões. Porque se existirem padrões, eu posso me convencer de que a culpa é minha, culpa de sentimentos defeituosos.
O dia em que eu parar de tentar encontrar meu padrão, tenha certeza que eu finalmente entendi que as coisas são como são. E então eu não vou mais existir. 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Cansei

Cansei de dizer só o que meu ego acha que devo dizer. Cansei de calcular, meticulosamente, cada frase, expressão, regra (e só quem me conhece sabe o quanto eu planejo, o quanto eu desejo que as coisas saiam como as construí na imaginação).
Cansei, viu?

Peco, erro, bagunço, tiro as coisas do lugar.
E sódeussabe o quanto eu me arrependo. Mas é um arrependimento diferente. Me arrependo de ter feito, mas também me arrependeria de não fazer. E ser e não ser, estar e não estar. É meu desejo de abraçar o mundo: o negro e o branco, ser santa e mundana.
Querer demais te dá o gosto de tudo. Mas querer demais é nunca parar de querer.

Estou cansada de fugir. Mas vou fugir mais uma vez porque ainda não decidi se me cansa mais ficar ou partir. Sustentar uma só ou me reinventar o tempo todo.

Será essa a minha natureza? Ou simplesmente meu lugar esteja perdido por aí?

domingo, 13 de março de 2011

um olho ali, outro lá

Dizem que há duas direções para tudo. Eu desconfio que existem outras, mas é mais simples mesmo reduzir nossos problemas a duas metades. Bom e ruim, bondade e maldade, radicalismo e tradição.

Viverá em paz quem aprisiona uma das metades enquanto permite que a outra tome conta da festa?

Nunca fui de maniqueísmos. Me apavora visões limitadas, rótulos, o duro e o seco. Costumo dizer que não tenho profissão, não tenho sexo, não tenho moral, não tenho paladar. Tudo é adaptável, vou tirando o que me dá prazer e descartando o lixo. Claro que o que pra mim é lixo pra você... Fiz de novo. Vivo à base de relatividade.
Não existe raiva, beleza... sequer existe uma cor. A cor que eu enxergo como rosa, para você, pode ser vermelho. Os limites são outros...

Mas desviei de onde quero chegar.
O que angustia é querer liberdade e, ao mesmo tempo, desejar profundamente raízes. É querer beber e, ao mesmo tempo, desejar nunca mais sentir uma só gota. E querer estar junto enquanto se é solitária. É pegar o melhor de cada estado. É querer demais.
Quero ser branca e negra. Uma burguesa hippie. Um pé no salto e outro descalço.
Quero o mundo debaixo dos meus braços.

Há um tempo, minha terapeuta me fez acreditar que eu não preciso ser uma só. Que eu posso ser duas, três, dez.
Mal sabia ela que sou feita de exageros.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

how much you care?

Falar de solidão soa tão clichê que me dá náuseas.
Náuseas por encarar a tela branca de um computador como a melhor companhia.
Náuseas por estar aqui, sozinha de novo, comprovando minha deficiência.
Existe tanto sentimento que meu corpo incha e eu sinto enjôo. Enjôo de sentimento.
Minhas mãos tremem e eu só grito para a tela branca do computador. Enquanto toda emoção que me incha, encontra maneiras de explodir para fora do corpo.
Não costumo chorar, mas hoje foi a maneira que ele encontrou de existir.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Longo caminho

Chuto uma pedra que está entre meus pés e o resto da estrada. Nas costas, o que preciso para que a consciência permaneça terrena, no corpo, algo que me cobre. 
Meus olhos enxergam o horizonte que se movimenta, deserto, campo. Eles gostariam (mais do que meus ouvidos) de enxergar outros olhos. Mas o passo-após-passo da minha liberdade é solitário. Como um lobo que caminha sobre as folhas de um outono passado, como um andarilho que me tornei. 
Uma trilha sentida enfrenta o vento comigo, botas surradas protegem os pés que já levei pra muito longe daqui. 
E nada me prende ao que é passado. O ontem já é passado e se novas ideias povoam os campos vivos do meu cérebro, é nelas que acreditarei. Com toda força. Elas que impulsionam o próximo sorriso. É com elas que eu acordo todos os dias. E não com outros olhos. Minhas companheiras são as ideias. 
Minha petulância decide e me comunica depois. E hoje ela decidiu por mais. Decidi não ter limites para a estrada. 
E por ela que sempre me apaixonarei.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Obrigada por fumar

Tenho uma vontade desesperada agora. Daquelas que aparecem de ano em ano.
Meu corpo não se basta. Eu não me basto.
A vontade desesperada era fumar você, uma fumaça que me viciou. Passei anos longe da fumaça tóxica e você trouxe o vício tão fácil...
Sem querer – talvez querendo, querendo muito -, você trouxe a fumaça pro meu sangue que corre e alimenta as células. As células, que, hoje, só crescem bebendo a maldita fumaça. Maldito seja.
Você trouxe o veneno. Agora meu sangue pressiona as veias e ameaça romper a pele em troca de mais fumaça. Pede a maldita fumaça, dia após dia.
Era isso que você queria? Tudo não passou de um teste para medir a potência do seu veneno.
Veneno maldito que me viciou. Veneno que me faz desejar sua fumaça todas as noites (à noite o vício sempre parece maior).
Sou fraca demais para abandonar um vício. Você deveria saber.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

sopro no ouvido

você tem muito o que chorar, menina.
um, dois, três e tudo acontece? não é assim, não.
é trabalho suado, corte de cana, terra revirada.
tua boca vai sentir muita secura ainda, teu olhar vai se perder em muita luz forte.
o veneno da raiva vai amargar muito tua garganta, menina.
fica tranquila que muita injustiça vai passar pelo toque dos seus dedos.
fica tranquila.

mas uma coisa eu te digo: não deixa de acreditar, não.
acreditar lá do fundo do céu da sua boca, lá da raspa do seu peito, que você merece mais.

domingo, 16 de janeiro de 2011

meus dias

nunca soube. mas agora parece tão fácil.
tão fácil.

sentir e só respirar e deixar o que te conduz... te conduzir. o medo chega, mas, de repente, um olhar transforma tudo.

um abraço, seus dedos sobre os meus e as dúvidas se escondem, pegam o final da fila. elas pegam o final da fila todos os dias.

(ele ama o mundo e isso muda tudo)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

descreva o que você vê em mim

seu céu tem outra cor
você sente cores que eu não reconheço mais
uma cegueira circunstancial

sinto outro gosto
seu paladar mudou permanentemente
nosso sabor não nasce mais no mesmo lugar

os ouvidos acostumaram a outros timbres
minha inocência musical foi violada

sinto cheio de flor, de mar, não do mesmo suor
seu olfato perdeu a sutileza para o cinismo

só me resta acreditar no toque.