segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sobre o que acalenta

Respiro. E quando a vista parece mais negra, um escuro fundo, que me engole, pouco a pouco, ele ressurge.
Caminho e caminho sem parar, os ossos doem, a brisa fria resseca o lábio. E quando paro, pronta para deixar que minha pele seja lavada pelas luzes febris, ele reaparece.

Sinto o odor do pescoço nu, o aconchego do peito que, lentamente, envolve e retira algo que parecia afundar. Algo que afunda ainda, insiste, faz brotar o amargo. Mas ele está lá. E, a cada dia, impede que meu corpo pese na beira do abismo. Impede que o vento forte o empurre vastidão abaixo.

Buscam um ombro. Eu recebi mais.
Todos buscam apoio. A solidão apavora até os mais egoístas. Eu recebi mais.

Hoje, tenho o calor dos braços, um silêncio cúmplice, algo que não se encontra em olhares afoitos. Olhares inocentes, mas vazios. Olhares munidos de inconstância inconsequente. Olhares que não percebem a verdade da troca.
Hoje, tenho o toque preocupado. Um toque carregado de verdade.

Aprendi que palavras seduzem. Palavras criam vontades, mas não alimentam.
Hoje, me alimento de um olhar puro, cheio de vontade de viver.
Hoje, me alimento de poucas palavras. Mas, hoje, me alimento de verdade.

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