quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Nota de falecimento (procura-se uma alma)

Preciso tanto da sorte
Pra me livrar dessa vida
Que tenho depois da morte
De minha querida
Minha querida alma
Que nasceu
E logo faleceu em vão.

Sentada em meu apartamento, lembrava-me de apagar, desligar, abortar.
Rezava, suplicava para que a sorte fizesse uma visita rápida em meus dias freneticamente pedantes, em minhas noites insones.
Alucinada pela pouca consciência, lembrei-me de minha alma dizendo adeus.
Abandonou-me, atravessou a porta, mal pude despedir-me, mal pude pedir perdão.

Pediu desculpas pra tudo
Despediu-se do mundo
Deu tchau pra geladeira
E também pro fogão
Minha querida alma
Que morreu
E eu nem a pedi perdão.

Desgastada com o pouco cuidado, com a mínima atenção, minha alma desprendeu-se.
Enquanto ela falava, eu virava as costas, distraída com algo na televisão.
Enquanto ela pedia, eu apenas escutava e logo esquecia.

Deixou-me abandonada
Meio desfigurada
No fim da canção
Pronta pra arriar no chão
E não tem nada engraçado
Tô meio bodeada
Tô sim, mas enfim
Isso é o que sobrou de mim.

Goste ou não, isso é o que sobrou de mim.



* Trechos de Nota de Falecimento (Daniel Pessoa) mesclados com anseios de quem vos fala.

2 comentários:

Rose Castilho disse...

Essa música é tão minha e ao mesmo tempo de tanta gente...
Ela penetra no corpo através da pele e crava no peito de forma profunda...
Resgata as dores antigas...
Mas é linda,
Assim como as conseqüentes lágrimas e os imediatos arrepios...

Anônimo disse...

"Eu levei minha alma para passear..."(NZ)
Mas me diz se a vida num é um eterno juntar as sobras e recomeçar. Ao final o que sobra é nossa essencia!

gostei bastante da maneira que se "inseriu" na música