terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Ferida

É como uma ferida aberta. Assim funciona meu corpo. Ele explode em mil sensações. Desejo, loucura, medo, o mais profundo amor. Ele ama, ama as lembranças como jamais foi capaz de amar algo palpável. Ele acaricia o que já passou como jamais foi capaz de acariciar alguém. Ele grita, dos poros saem um cheiro delirante de nicotina durante a madrugada quase fria. Dos desejos aprisionados sobra apenas uma melancolia sem graça alguma, solitária, escondida.

A cabeça dói, as costas estão curvadas para auxiliar os olhos na difícil tarefa de traduzir um apelo desesperado. A sanidade já se foi, sobrou algo parecido com a encenação de um triste teatro.
O peito aperta e me pergunto a razão, se é que existe alguma razão. Questiono-me, questiono meu passado, questiono o mundo em que vivo, minhas vãs escolhas, meu ardoroso futuro próximo. E deles só saem novos questionamentos, confusões, confissões, o corpo rígido pela vontade de expressar algo mais, os músculos sedentos pela concretização da loucura.

O medo está sempre ao lado da loucura. E hoje deixei que ele tomasse conta, que se manifestasse em seu estado mais puro. Vivi e sobrevivo ao medo em seu estado mais puro. Controlo a louca vontade de me punir, punir meu corpo, minha alma por mentir, mentir a mim mesma, mentir aos meus sentimentos, mentir ao que mais profundamente corta minha carne branca.

Funciona como uma ferida aberta. Retirei a casca vermelha que a cobria, que a protegia e agora sinto o ardor de algo recém aberto, o ardor da repetição da dor, revivo. Revivo e de meus olhos não cai lágrima alguma. Seria eu algum tipo de ser humano em mutação? Ou um ser em semi-desenvolvimento que se esqueceu de uma das etapas de formação e simplesmente nasceu?

2 comentários:

Cadeira. disse...

Percebo melhoras em sua insanidade literária, bem como nas descrições e construção de frases.
Você, creio que por ser jornalista, tem aquele vício do objetivismo. Mas sinto que as coisas vêm se subjetivando por aí. Muito bom, muito bom.

Anônimo disse...

Oi moça, POXAAA muito bonito os seus textos, não deixe essas coisas guardadas ai dentro não. Gostei mesmo.

"Ele acaricia o que já passou como jamais foi capaz de acariciar alguém."

beeemm escorpiano isso!!