domingo, 17 de outubro de 2010

Há algo de podre


Não tem santo que tire você da daqui, não é?
Não.

Sei lá, me deixa, deixa eu andar, sugar o ar, dar passos sem pretensão, risadas do tolo.
Não posso.

Solta, volte a dormir, apague a luz, sei lá, só me dê as chaves, as chaves pra voltar a viver.
Eu faço parte disso.

Tudo bem. Então prepare um copo de veneno, uma prisão de gelo, o descarrilamento de um trem. Jogue meu corpo nos trilhos.
Vou morrer também.

Mas é isso o que você quer! Com os dentes cravados no que eu poderia ser. Você quer sobreviver, mas, no final, sabe que vai morrer. Sabe que não aguentaremos. No final, você quer morrer.
Sua melancolia me alimenta.

Não! Quem injeta toda melancolia em mim é você. Não pode ser. Não é.
Sua melancolia me alimenta e eu cravo os dentes. Chego ao abismo.

Eu não me importo onde você chega, eu não dou a mínima. Não quero o abismo. Passei a vida trançando cordas, costurando um caminho.
Eu nasci no abismo. Eu faço parte de você e você de mim. Você já é abismo.

A escolha não está em suas mãos. Conheci pouco do que vale a pena, mas tenho mais desejo do que nunca. Isso não está certo, não pode estar certo.
Não há justiça. Tudo simplesmente é.

Tarde demais para vivermos separados, né?
Tarde demais, minha cara.


(a foto é do ffffound, pra variar)