quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Abri os olhos mais uma vez. Era cedo ainda e senti frio. Logo encolhi as pernas pra proteger o pé da brisa que entrava pela fresta da janela e fechei os olhos.
Quando fecho os olhos pela manhã, perco a noção de espaço, esqueço de puxar o ar e me falta a memória: nunca lembro quanto tempo permaneci ali, olhos fechados.
Hoje acordei, abri os olhos, encolhi o pé e pensei em você.
Sonhei em olhar para o lado, os pés encolhidos, e encontrar aquele meio sorriso, seus olhos ainda apertados pela luz. Sonhei em acordar, olhar em volta e encontrar o quarto de sempre, sentir o cheiro conhecido, saber onde repousar minhas mãos.
Sonhei em dar bom dia do jeito que você gosta, em ir até a cozinha e preparar o café com pouco açúcar. Sonhei em encontrar o pó naquele mesmo armário, as colheres bagunçadas na gaveta de sempre.
Sonhei com aquele susto conhecido, suas mãos em volta da minha cintura.
Sonhei que passávamos o dia na cama, entre café e pés e pernas, e que assistíamos o pôr do sol, os dois espremidos pelo pouco espaço da veneziana.
Sonhei em sentir tudo o que estou sentindo e não ter medo e encontrar seu nome fácil nos lábios e contar da formiga que vi passeando pelo chão.  
Os pés encolhidos, os olhos fechados, sonhei que era simples. Sonhei que, de repente, tudo era exatamente do jeito que eu sempre imaginei. Assim, só pra variar.


Se eu pudesse escolher uma única certeza, escolheria a certeza de que o que eu sinto é real. E, então, minhas palavras teriam um nome. E um dono. Eu correria e contaria pra você a novidade. Uma notícia que demorou anos pra chegar aqui dentro, mas que despertou em você no primeiro instante.    

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