domingo, 1 de agosto de 2010

Mexa em minhas lembranças

A ação é conhecida. E faço questão de me incluir no pensar sobre.

Status cool
Por João Paulo Cuenca

Faz parte do status cool dos anos 10 a invasão de bares, boates e esquinas pitorescas pela jovem intelligentsia carioca. É moda a boate pobrinha com show de obesas sadomasô besuntadas em chocolate, o karaokê na Feira de São Cristóvão, a festinha de playground na boate de swing em Copa, a apresentação de transformistas na Lapa, o show de funk na Vila Mimosa, o baile charme sob o viaduto de Madureira etc.

Os bem nascidos do balneário mergulham no wild side como turistas japoneses de pochete e máscara hospitalar na Disneylândia, colonizando com seus olhares de ray-ban wayfarer os cantos mais sórdidos da cidade. Sentem-se muito ousados e especiais por um par de horas para depois voltarem à caminha quente de hoje, ontem e amanhã.

Como todas, é velha a novidade. Deixou de ser tendência para fazer parte do roteiro noturno da cidade. E os donos do fetiche, do folclore e desses balcões obscuros veem seu espaço domesticado por hordas de neófitos curiosos de classe média. Aos poucos, o intercâmbio assassina a diversão dos seus frequentadores originais - não seria surpresa que aparecessem movimentos de conservação e pureza underground, semelhantes aos capitaneados por sambistas e chorões talibãs.

Sugeriria uma invasão ao contrário. O problema é que o Baixo Gávea e as Festinhas Bronzeadas MooSapucapetoGemaGemaStyle matariam de tédio o pessoal.

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Longe das visitas guiadas ao submundo, as festinhas da belle époque do século XXI também alcançam níveis inéditos de frivolidade em San Sebastián. Multiplicam-se os DJ´s (é comum ver 10 sujeitos de colete por trás de duas carrapetas) e fotógrafos noturnos (com pose de artista conceitual) até que seu número seja igual ao do público pagante. Para cada habitante da boate, há um fotógrafo - e um DJ.

Em pouco tempo, essa proporção crescerá para além disso. Chegará o mágico dia em que todos serão DJ´s e fotógrafos no salão. Divas fotografando divas ouvindo divas fotografando divas etc.

O objetivo principal da noitada, antes com fins de conquista e reprodução, hoje é ficar bem na foto. E depois conferir a pose estampada no site übercool do dia – pois tudo é nada sem o registro da imagem e nada é tudo com a fotografia guardada no cartão de memória etc.

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Sobre registros fotográficos, certa vez escreveu o meu amigo Shunsuke Okuda (e com muito mais talento): "Fotos fazem sentido numa propaganda, para anunciar e vender um produto qualquer. E não para guardar a lembrança de alguém - ou ocupar o espaço da sua ausência. Uma fotografia é uma manipulação anormal: dentro dela o tempo não existe. Essa máquina tem a forma de uma lâmina fina e retangular que viaja na velocidade da luz. Só que as lembranças devem sofrer a ação do tempo."

Um comentário:

iarad disse...

Oi gostei do seu texto, visite o meu blog com textos pessoais. Obrigado.