terça-feira, 6 de julho de 2010

Companhia


Mão a mão. Clarice já dizia que a mão decepada não a assusta. Que, para escrever, para contar a vida, ela, desde a beirada, precisava de uma mão.

E ela não ousava imaginar as pernas, os braços, o cabelo. Ela jamais poderia criar uma pessoa inteira. Porque ela mesma não era uma pessoa inteira.

A mim, aprendo a cada conjunto de dias, não resta desejar mais do que a tal mão decepada. Que ela apenas roce em meus dedos. Uma mão, uma mão decepada, poderia me acompanhar noite adentro.

Anos de procura e, tudo o que desejo, é uma mão. Uma mão ao fechar os olhos, uma mão ao descobrir o medo. O medo de caminhar sozinha pelas ruas, de apertar algo junto ao peito, ou afastá-lo. Uma mão que recebe a má notícia. Uma mão que cuide.

Não posso criar uma pessoa inteira. Não nasci inteira. E, tema a verdade, caro amigo, nunca serei inteira.
A culpa não é dos inteiros. A culpa não é minha. Muito menos dos dedos, das mãos. A culpa é do que é. Assim, as coisas simplesmente são. Sem culpas ou culpados.

Dos meus desejos, demonstro pouco. Uma mão. Uma mão decepada, uma mão que se basta.

Eu, incompleta, me basto. Com exceção da mão, é claro.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Já é tarde pra mais uma rodada
Seus problemas e dilemas não estão mais aqui
Tanto faz ser vítima ou culpada
Abra os olhos e as janelas
Deixe o sol te iluminar
Deixe tudo pra lá"

"Vou te pegar a mão
Te levantar do chão"



lembra?

saudades.
=]

Camis disse...

Adorei.
E roubei o texto anterior!

Ah, e consegui te adicionar no blog. ;) e como você conseguiu colocar a re? eu não consegui acho que por não ser blogger, sei lá. me ensina?

E obrigada pelo seu comentário no meu. Estava pensando em desistir e você me animou.. ;)

Beijos, nega.