terça-feira, 28 de setembro de 2010

Poder a quem quer poder

Um dia de líquidos.

Desde que acordei água, café, água de novo, cerveja, café, chá. Aguardo pacientemente que o líquido desmanche algo. Algo que consolida o peito e faz com que os braços fiquem rígidos em situações das mais variadas. Meu esforço em impedir que meu olhar se perca é tamanho, que me esqueço dos braços. E eles ficam lá, sem saber o que fazer, apoiados sobre a mesa, cruzados, soltos, não acham lugar. Meus braços deram pra sobrar nos almoços. E jantares. E bares. Deram de não se encaixar mais.

As mãos não. As mãos também sentem, mas, ao menos, elas têm uma a outra. Quando percebo, lá estão as duas, juntas, em uma tentativa insana de esquentar-se. Tento dizer o que me ensinaram... mãos frias e o coração lá. Elas duvidam do que eu conto, ignoram meus conselhos, e continuam no vai-e-vem particular. Sou excluída sem dó.

Minha boca deu de absorver a preguiça das tardes de terça-feira. E agora é uma preguiça só, cala para não ter de continuar além da terceira frase.

Os olhos não olham mais, a digestão tirou licença. Meu corpo, assim, sem mais, deu de ficar rebelde. Simplesmente não encaixa. Não há santo que o obrigue a atender minhas ordens.

É greve, ouvi dizerem por aí. É greve, Natane.

De tanto negar o que há dentro do peito, meu corpo, numa atitude um tanto política demais, pediu Diretas Já. Agora quer votar pelo futuro.

Sem saber o que fazer, eu, rendida, retiro a razão do trono e democratizo minhas escolhas. Pelos novos tempos, companheiros. Pelos novos tempos.

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