quarta-feira, 23 de julho de 2008

Um novo rubor

Tudo parecia tão enegrecido, mas a pequena sobrevivia. Os dias carregavam-na.
Hora após hora, a pequena planejava os minutos seguintes na ânsia de que estes, enfim, saíssem como o planejado. E seu plano era deixar o negrume para trás, voltar a andar sobre cores.
A existência caminhava como algo arrastado, mas a esperança estava ali: a pequena recusava-se a perdê-la. Abominava a idéia de render-se ao acaso.
E, de tanto imaginar, os céus trouxeram o rompimento. Assim, sem muito aviso. Ela pedira, mas, diante do inevitável, da violência, ela parecia não acreditar.
A pequena chorou, chorou dias a fio. Chorou tanto que as lágrimas marcaram as bochechas antes rosadas, ainda que rosadas de um falso rubor.
E lá permaneceu a pensar, marcada. Pensou, repensou, imaginou, quis compreender. Seus passos sempre tão firmes, de repente, soaram inúteis. Trejeitos, manias e atitudes já não pertenciam mais àquele corpo.
Tempo.
Uma longa ciranda de ponteiros mais tarde, a pequena finalmente viu, diante de seus olhos já recuperados de tanta tristeza, as primeiras cores. Cores sob uma névoa, mas, ainda sim, as primeiras cores. Não eram as cores de outrora, mas novos matizes, tons nunca alcançados, tons de cenas ainda no papel.

4 comentários:

Anônimo disse...

Eu também tento não me render ao acaso. Belo texto. Que venham cores novas, cores de Almodovar!! E muita música.

Irina disse...

gostei muito disso aqui. =)

Vinícius Castelli disse...

Eu sei muito bem que durante o frio das noites de inverno, algumas coisas parecem não ter fim.
Mas nós dois sabemos muito bem que no dia seguinte, ou no seguinte, tudo volta a ser como deve, né.

"Um sol esplêndido secou as ruas cheias de escombros encalhados, e voltou o calor"
Gabriel Garcia Marquez

De Marchi ॐ disse...

...

Mais alguém adora ler essa mulher? :D