terça-feira, 1 de julho de 2008

Àquele ato... ato 2

O primeiro sinal foi o formigamento nos dedos. Agora eram as mãos. Formigavam, não deixavam-na dormir, quieta, em paz. Numa paz merecida de cidadã cumpridora de regras, obrigações, sorrisos e gentilezas. A poesia borbulhava sob sua pela alva, tão alva, que de ver o sol, assustava-se e corava.
Depois daquele dia, tudo parecia diferente. E de fato fora. Um segundo desatento e meses de segundos não programados. Era aquilo ou nada e nada não era de seu feitio.
Preferiu refugiar-se em cenas de vidas alheias, pinceladas, um universo onde tudo era tão dramático!
Assim como sua vida. Do instante mais terreno, ela transformava-o em cena fingida. Fingia uma importância, fingia palavras, fingia sentimentos, saudades, rimas, cores, sabores. Afinal, o que era a existência senão um conjunto de cenas criadas, recriadas e coordenadas por nossa própria vontade? O que era senão as conseqüências de decisões instantâneas, mas, ainda sim, nossas decisões?
Aquele dia, ela mal pode dormir. O formigamento no pé, nos dedos da mão, a cabeça e estômago doloridos. A espera por um amanhã criado, recriado, replanejado. Planejado tantas vezes... algo a sufocava e ela tentava descobrir o início de um novelo de fios tão distintos! Impossível, pensou. Impossível saber quando nasceu o primeiro ímpeto da primeira idéia do primeiro fio daquele novelo tão distinto.
Impossível era prever ou desfazer o nó. Tarde demais. Já era tarde.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Impossível saber quando nasceu o primeiro ímpeto da primeira idéia do primeiro fio daquele novelo tão distinto."

E a cada dia tenho mais certeza de que vivemos em Matrix.
Quero me desconectar. Agora.