segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Agonia

Olhava para as unhas curtas e escuras. O esmalte um pouco gasto, as mãos trêmulas, um hematoma perto do pulso.
Era como se o mundo estivesse cobrando cada minuto de prazer concedido. Ela sentia o peso sobre seu corpo frágil pela falta de alimento, de sono, pelo excesso de fumaça.
Aos ouvidos, as mesmas notas melancólicas. Ela contorcia as pernas, sentia os lábios secos. Algo doía.

***

Quero os momentos passados.
Quero os segundos irreais, o peito com mais ar, a respiração ofegante e o sorriso fácil.
Quero algo que doa menos, uma anestesia, uma insanidade inconseqüente.
Quero sentir menos. Lembrar menos.

***

A gente colhe o que planta. O fruto nem sempre nasce como imaginamos, mas ele ainda é o resultado do que um dia foi apenas semente. Um pensamento. Ou a falta dele.

***

Silencio-me na esperança de um segundo a mais. Fecho a porta, confesso meu medo. E espero.

2 comentários:

Anônimo disse...

Às vezes eu sinto o mesmo que você [se compreendi o que sentia quando escreveu o texto]. Parece-me que falta algo, que o sentido me foge das coisas. Meus pés ou estão presos demais ao chão, ou não consigo encontrar apoio algum. Às vezes parece que não tenho um canto sossegado pra descansar os dias corridos. Ainda espero por alguma coisa assim, que me traga algum tipo de paz, ansiedades sentimentais e... Foda-se.

Não queira sentir menos, minha querida. Isso sim é difícil. Melhor é procurar o alívio nos próprios sentimentos, não a falta deles.

Um beijo.

Anônimo disse...

existe sempre alguma coisa ausente..