Parecia um dia comum. O sol brilhava num céu azul. Parecia um dia comum e todos foram trabalhar. Ninguém tinha parado para pensar em como era trabalhar sem gmail. Até porque não existia trabalhar sem gmail. Até porque nada existia sem gmail. Até aquela manhã.
A primeira a chegar foi ela, com seus sapatos verdes. Sentou apressada, ligou a torre e sozinha na redação, digitou rápido a senha da internet. Num gesto maquinal digitou o primeiro site das manhãs: dábliudábliudábliupontogímeilpontocom. Nada. Fez a mesma coisa três ou quatro vezes. Checou a conexão. Nada. Olhou para os lados: ninguém. Ligou quase desesperada para o irmão que lhe diria se era um problema no site ou na empresa. O irmão não atendeu. Sentiu-se em um isolamento estranho pensou que Deus havia bloqueado a comunicação mundial e se desesperou.
Mas foram chegando os outros. No mesmo gesto rotineiro, tentaram entrar no site. Olharam atônitos a bandeirinha do Windows tremular. Nada. Se entreolharam e perguntaram quase num coro: o que está acontecendo com o gmail pelo amor de Deus. Ninguém disse nada, mas passou pela cabeça de todos o pesadelo dos sites bloqueados, mordaça para qualquer jornalista.
E agora? Surgiram possibilidades, suposições, ligações externas. A esperança do problema ser do Google. Só depois do almoço é que veio a confirmação: "Lá fora o gmail está normal", anunciou algum. E agora? Como vai ser? Bloquearam mesmo. Os ramais anunciavam a novidade aqui e ali. "Foi ordem da diretoria", "Disseram que a gente não trabalha". Suspiros e mais suspiros.
A gente não sabia, nem eu, nem a menina de brinco roxo, nem a garota dos sapatos verdes. A gente não sabia que aquelas janelas azuis que de súbito se tornam laranja nos aproximam do mundo. E nos fazem sorrir. Depois de algumas horas chega a notícia da liberação. Abaixo o AI-5. O gmail está de volta. E o mundo também. Ao alcance de um clique nessa virtualidade que é ser nós.
* Autoria da menina do casaco dourado (ou ainda, menina das costas em chamas).
3 comentários:
hahahahha
hahahaha
Genial!
Meus cumprimentos à autora.
ahhh
voltou é?
laurinha
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